NOVA PONTE: A LIÇÃO IGNORADA DO PROF.BALDRAIA*

Há tempos se discute a proposta de construção de uma nova ponte ligando os municípios de Tramandaí e Imbé. O tema voltou à discussão com salvo em situações de exceção, como acidentes ou ações de manutenção, o fluxo r cabo à situação” defende o professor, que enumera, abaixo, as razões para o seu ponto de vista:


NOVA PONTE TRAMANDAÍ-IMBÉ: UM GASTO DESNECESSÁRIO
Há tempos se discute a proposta de construção de uma nova ponte ligando os municípios de Tramandaí e Imbé. O tema voltou à discussão com a divulgação de um projeto que propõe cinco alternativas para a sua localização, desde as proximidades da barra do rio até a beira da lagoa. “À luz dos tempos atuais, a que(m) serve uma nova ponte?”, questiona o professor André Baldraia, do Ceclimar da UFRGS, membro da Associação Comunitária de Imbé.
Baldraia reconhece a ocorrência de congestionamentos, especialmente, em alguns dias dos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, quando o tanto o volume quanto o fluxo de veículos aumentam substancialmente. “Trata-se, porém, de intercorrências pontuais. Ao longo de um ano, salvo em situações de exceção, como acidentes ou ações de manutenção, o fluxo de veículos é tranquilo, não justificando a criação de uma nova ponte. A simples reforma e a adoção de medidas de planejamento da circulação, especialmente, na área central de Tramandaí seriam suficientes para dar cabo à situação” defende o professor.
Um ponto importante a ser tratado diz respeito ao fluxo de veículos pesados sobre a ponte. "É importante observar que a estrutura atual suporta o tráfego de ônibus intermunicipal, de longa distância, portanto aguenta a passagem de caminhões de carga que comportem a mesma capacidade. Entretanto, é importante ressaltar que uma das principais vias de acesso aos dois municípios, a rodovia RS-389 apresenta restrições à circulação de muitos caminhões" diz ele.
Muitas vezes, representantes do setor construção civil para defenderem suas propostas mobilizam o argumento da geração de empregos. "Cabe então questionar qual a quantidade de empregos uma desse porte geraria para a população local. E mais, qual(is) empresa(s) locais tem porte técnico e econômico para tocarem adiante um empreendimento desse porte?" pergunta.
Um dos pontos mais relevantes a ser discutido diz respeito aos impactos econômicos e ambientais que uma obra desse porte terá a uma parcela importante da população local,. Trata-se dos pescadores artesanais, cuja prática entrará em risco, caso a ponte seja construída nos traçados mais próximos da barra do rio Tramandaí.
"O risco é de numa só tacada colocarem em risco os botos (golfinhos) da barra, patrimônio do município de Imbé, de acordo com o Decreto 049, de 31/01/1990 e com a pesca Pesca Colaborativa entre pescadores artesanais e botos na Bacia do Rio Tramandaí, que recentemente tornou-se lei por meio do 64/2018. "
A proposta de construção de uma nova ponte se encadeia com práticas que as economias mais desenvolvidas estão abandonando, quais sejam: o investimento em ampliação da malha viária para transporte individual.
- A solução do problema viário crônico em curtos períodos do verão pode ser dada pela recuperação da estrutura atual, eventualmente acrescida um pequeno conjunto de reformas na área central de Tramandaí. Considero que, na insistência de se construir uma nova ponte, em relação aos elementos sumariamente tratados, o traçado menos problemático é o mais próximo às atuais pontes, porque causa menos impactos aos patrimônios da região e demanda menos recursos de reconversão urbanística para dar vazão ao novo fluxo de veículos criado pela construção.
Para o professor Baldraia, a construção de uma nova ponte ligando os municípios de Imbé e Tramandaí é gasto, não é investimento.
"Uma reforma da ponte e de suas cercanias resolveriam a questão da circulação a contento. Construir uma nova ponte dialoga com uma economia do passado, quando o carro era o objeto central das intervenções urbanas. É uma proposta que vai na contramão do que ocorre em várias e importantes cidades do mundo. É um exemplo de má alocação de recursos públicos que poderiam ser empregados em diversas áreas, como a própria mobilidade urbana. Ao invés de se investir na construção de pontes, esse recurso poderia ser empregado, por exemplo em políticas de construção de um polo de atividades turísticas e de estímulo à circulação de pedestres, gerando postos de trabalho às comunidades locais.



* Publicado no jornal Dimensão, de Tramandaí, em agosto de 2021. 


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