VALAS OU TUBOS?
ATHOS STERN
Engenheiro, ex-presidente da Associação Comunitária de Imbé - Braço Morto
Os prefeitos, vereadores, equipe técnica das
prefeituras, moradores e veranistas devem tomar conhecimento do que seja Sistemas
Urbanos de Drenagem Sustentável (SUDS), com o objetivo de minimizar os efeitos
das ocorrências de chuvas intensas, que causam alagamentos no Litoral Norte do
Rio Grande do Sul.
É necessário implementar medidas de prevenção e
mitigação para reduzir os impactos desses eventos, pois embora
esses fenômenos sejam naturais, eles podem ser intensificados pelas práticas
humanas no espaço das cidades, como a urbanização desordenada e a poluição.
Os Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentável (SUDS) são uma
alternativa aos sistemas tradicionais de drenagem, projetados para maximizar as
oportunidades e benefícios decorrentes do controle na origem das águas
pluviais. Eles são elementos integrantes
da infraestrutura hidráulica urbana, preferencialmente vegetados
(naturalizados), destinados a filtrar, reter, infiltrar, transportar e
armazenar água de chuva.
Esses sistemas são planejados
para controlar o escoamento superficial e a qualidade da água, aliados à oferta
de áreas de amenidade e que possibilitem um contato da população com o
ecossistema natural. Além disso, eles visam resgatar
o ciclo hidrológico natural, UTILIZANDO TECNOLOGIAS, MEDIDAS E TÉCNICAS DE
ENGENHARIA QUE DISPENSAM AS GALERIAS PLUVIAIS.
Esses sistemas são bastante
difundidos em outros países, mas ainda são pouco utilizados no Brasil. No entanto, eles têm ganhado
visibilidade nas últimas décadas devido à sua capacidade de obter benefícios
ambientais e reduzir os custos econômicos na implementação de equipamentos de
drenagem urbana.
Com o objetivo de mostrar como poderia ser utilizado este sistema, vamos examinar, por exemplo, as substituições de valas de drenagem existentes no município de Imbé por tubulações de 1 metro de diâmetro.
A prefeitura municipal de Imbé
vem realizando a substituição de valas de drenagem por canalizações tubulares
de concreto, sem apresentar os estudos técnicos que
justifiquem a interrupção do fluxo natural de água subterrânea, dirigindo
toda a água que provém da chuva em toda área do Imbé para o Lago do Braço Morto.
A
substituição de uma vala de drenagem natural por tubos de concreto pode ter
vários impactos ambientais, especialmente se a vala abriga uma
variedade de vida selvagem e vegetação.
No entanto, as tubulações
implantadas também têm outros impactos ambientais que devem ser considerados. Aqui
estão alguns dos impactos potenciais:
Perda de habitat: A
instalação de tubos de concreto pode levar à destruição do habitat natural de
várias espécies, incluindo peixes, rãs, tartarugas e pássaros que dependem da
vala para alimentação e água.
Alteração do ecossistema
aquático: A drenagem natural ajuda a manter o equilíbrio ecológico
da área, fornecendo um ambiente para várias espécies aquáticas e terrestres. A
substituição por tubos de concreto pode alterar esse equilíbrio.
Remoção de vegetação: A
escavação necessária para a instalação de tubos de concreto pode resultar na
remoção de vegetação, o que pode levar à erosão do solo e à perda de habitats
para a vida selvagem.
Alteração do fluxo de água: Os
tubos de concreto podem alterar o fluxo natural de água, o que pode ter
impactos ecológicos.
É importante notar que cada
situação é única e os impactos exatos podem variar dependendo de fatores
específicos, como o tipo de solo, a topografia, o clima e a biodiversidade
local.
A instalação de tubos de
concreto abaixo do lençol freático pode ter várias implicações. Por
exemplo, pode causar a interrupção do
fluxo natural de água subterrânea, o que pode afetar o equilíbrio
ecológico da área. Além
disso, a escavação necessária para a instalação dos tubos pode resultar na
remoção de vegetação, o que pode levar à erosão do solo e à perda de habitats
para a vida selvagem.
SOBRE A ÁGUA PARADA
DENTRO DO TUBO, É MUITO IMPORTANTE OBSERVAR QUE A ÁGUA PARADA PODE, DE FATO, SE
TORNAR UM LOCAL DE REPRODUÇÃO PARA MOSQUITOS, COMO O AEDES AEGYPTI, QUE É O
VETOR DE DOENÇAS COMO A DENGUE. ISSO PODE REPRESENTAR UM RISCO À SAÚDE PÚBLICA.
É importante que essas
preocupações sejam levadas em consideração ao planejar e implementar projetos
de drenagem. Consultar
um especialista em drenagem ou um ecologista pode ser útil para entender
completamente os impactos ambientais potenciais e para desenvolver estratégias
de mitigação.
QUAIS SERIAM OS PASSOS
RECOMENDÁVEIS E NÃO SEGUIDOS PELA PREFEITURA DE IMBÉ NO PROJETO EM ANÁLISE
Projetar
uma tubulação de concreto para substituir uma vala de drenagem existente em uma
área com fauna dependente, solo arenoso de praia e lençol freático elevado é um
processo complexo que envolve várias etapas. Aqui estão alguns passos gerais
que você pode considerar:
1. Estudo do local e da fauna: Antes de iniciar o projeto, é
importante entender a fauna local que depende da vala para alimentação e água.
Isso ajudará a garantir que o projeto não prejudique esses animais. Consulte um biólogo ou um
ecologista para obter conselhos sobre como minimizar o impacto na fauna local.
2. Análise do solo e do lençol
freático: Realize
uma análise detalhada do solo e do lençol freático. Em solos arenosos com lençol
freático elevado, é importante considerar a estabilidade do solo e a drenagem
adequada.
3. Projeto da tubulação: O projeto da tubulação deve seguir as
especificações da norma NBR 12266 – Projeto e execução de valas para
assentamento de tubulação de água, esgoto ou drenagem urbana. Isso inclui o preparo da vala,
o assentamento da tubulação, o preparo do fundo da vala e o reaterro.
Lembre-se, este é um processo complexo que deve ser
realizado por profissionais qualificados. Recomenda-se contratar um engenheiro
civil especializado e qualificado ou uma empresa de engenharia especializada
para realizar o projeto e a construção da tubulação. Além disso, as leis e
regulamentos locais relacionados à construção e à proteção da vida selvagem
devem ser seguidos.
EXISTE
ALGUMA ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL À VALA DE DRENAGEM?
Sim, existem
várias alternativas sustentáveis à vala de drenagem. Essas alternativas são
conhecidas como Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentável (SUDS), e são bastante
difundidos em outros países, embora ainda pouco utilizados no Brasil. Aqui estão algumas dessas
alternativas:
1. Telhados e terraços verdes
Sistemas com cobertura vegetal
que são aplicáveis a telhados e terraços, de forma a interceptar e reter as
águas pluviais, reduzindo o volume de escoamento. Também têm a função de
retenção de contaminantes e funcionam como isolante térmico, compensando o
efeito de “ilha de calor” decorrente da urbanização.
2. Superfícies permeáveis
São obtidas através da
implantação de pavimentos que permitem a infiltração de água ou mesmo a
captação de água para posterior reutilização ou evacuação. Nestes, a água pode
infiltrar pelas juntas ou mesmo pela presença de gramíneas, conforme o modelo
aplicado.
Superfície permeável de piso
intertravado com gramíneas.
3. Faixas de solo cobertas com vegetação, de largura variável e com pequena inclinação. São instaladas entre uma superfície impermeável e o meio receptor do escoamento (curso d’água ou rede de drenagem). Permitem, além da infiltração e a consequente redução do escoamento, a sedimentação das partículas contaminantes.
Faixa filtrante contígua a uma
rodovia
4. Poços ou valas de infiltração
Poços e valas pouco profundos (1 a 3 m)
recheados de material filtrante, que receberão o escoamento superficial
ocorrido em áreas contíguas impermeabilizadas. A concepção técnica deve prever
a completa absorção do escoamento gerado por um temporal, por exemplo.
5. Drenos filtrantes
Valas pouco profundas recheadas de material
filtrante, com ou sem conduto inferior de transporte, destinadas a captar e
filtrar o escoamento de superfícies impermeáveis contíguas com a finalidade de
transportá-las a jusante. Podem permitir a infiltração e diminuição dos volumes
de escoamento.
Observação: No caso do Litoral
Norte não existe problema, pois o solo é de areia e portanto, filtrante
naturalmente!
Dreno filtrante entre duas
superfícies impermeáveis
Observação: As calçadas são
pavimentadas cerca de 1,20m de largura e o restante é gramada!
6. Valas verdes
Dreno filtrante entre duas
superfícies impermeáveis. São canais superficiais lineares amplos e com
inclinação, desenhados para armazenar e transportar o escoamento superficial em
baixas velocidades, permitindo a sedimentação de partículas contaminantes.
Também podem permitir a infiltração para camadas inferiores.
Exemplo de Valas Verdes no
Litoral Norte:
Condomínio Condado de Capão,
no município de Capão da Canoa
Observação: As valas de
drenagem que estão sendo substituídas são iguais a essa, porém sem nenhuma
regularização dos taludes e nem um enleivamento!
Depressões
vegetadas do terreno, desenhadas para armazenar e infiltrar gradualmente o
escoamento de água gerado em superfícies contíguas. O
fluxo, então, de superficial passa a subterrâneo, permitindo também a eliminação
de contaminantes mediante filtros, adsorção e transformações biológicas.
8. Depósitos superficiais de detenção
Depósitos superficiais
desenhados para armazenamento temporário de volumes de escoamento gerados a montante,
reduzindo os fluxos de água em momentos de pico. Também enfrentam a
contaminação mediante sedimentação. Podem ser instalados em “zonas mortas” ou
ser associados a outros usos (recreativos ou esportivos, por exemplo).
9. Lagoas de retenção
Lagoas artificiais com lâmina permanente de
água (de profundidade entre 1,2 e 2 metros) com vegetação aquática, tanto
emergente como submersa. Servem para longos períodos de retenção de escoamento
(2-3 semanas) e promovem a sedimentação e absorção de nutrientes pela
vegetação. Preveem um volume adicional de armazenamento para redução dos fluxos
em momentos de pico.
Essas alternativas podem ser
mais acessíveis e atuam de maneira mais harmônica com o ambiente. No entanto, a escolha da melhor
alternativa depende de vários fatores, incluindo as condições locais e os
objetivos do projeto. É recomendável consultar um profissional qualificado
para ajudar a escolher a melhor alternativa para o seu caso.
O parque inundável
O parque foi projetado
para recolher as águas de alagamentos, além de contar com lâmina d’água
permanente, tem capacidade de acolhimento de muitos metros cúbicos de água. Caso
superado o volume, as águas podem ser desviadas diretamente ao mar. A água
recolhida, por seu turno, pode ser encaminhada a uma estação de tratamento para
reutilização ou mesmo direcionada (se de boa qualidade) para utilização no
regadio urbano.
O mais interessante desse
empreendimento é que ele alia o objetivo do controle de inundações a funções paisagísticas, estéticas e recreativas,
transformando-se num ponto nobre da cidade – inclusive com valorização
imobiliária do entorno.
A drenagem sustentável não
apenas gera o volume de escoamento (através da evacuação, da infiltração e da
evapotranspiração), ocupando-se também da carga contaminante que as águas
carregam ao escoar, com ganhos, então, não apenas no aspecto quantitativo, mas
também qualitativo
Assim, da análise do sistema
proposto e de suas tipologias, verificam se todos os benefícios que podem
derivar de sua implantação.
É, portanto, compatibilizar o
desenvolvimento urbano com a natureza, gerando cidades mais sustentáveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para finalizar, vamos fazer as
observações pertinentes as ações que a prefeitura municipal de Imbé vem
realizando, pois foi mostrado a existências de outras ações, que tem por
objetivo de controlar as inundações, através de soluções paisagísticas,
estéticas e recreativas, transformando as áreas de controle das inundações num
ponto nobre da cidade – inclusive com valorização imobiliária do entorno.
Então vamos apresentar as
ações, que a prefeitura de Imbé através de seus profissionais e seu prefeito,
vem realizando, na contramão das alternativas sustentáveis, com
referência a substituição de valas de drenagem pluvial por tubulações de 1,00m
de diâmetro:
·
Estudos Técnicos que
justifiquem a interrupção do fluxo natural de água subterrânea, não foram
disponibilizadas para exame da substituição da vala de drenagem por uma
tubulação de 1,00m de diâmetro.
·
Estudos dos Impactos Ambientais
devido a substituição de uma vala de drenagem natural por tubos de concreto
também não foram disponibilizados para exame.
·
As águas provenientes das chuvas se dirigem, em
toda área de influência de drenagem, através desta tubulação de 1,00m de
diâmetro, que substitui a vala de drenagem, primeiramente para uma outra tubulação
de 1,00m de diâmetro localizada na Av. São Miguel, que deságua na Lagoa do
Braço Morto e desta, através de um canal de drenagem, para o rio Tramandaí. Todo
este projeto não se tem conhecimento do seu dimensionamento.
·
A ACIBM – Associação Comunitária de Imbé Braço
Morto, solicitou ao prefeito do município de Imbé, que fosse fornecido à
associação os projetos desta obra.
Esta
solicitação foi determinada pelo fato de engenheiros da ACIBM, não entendiam
como drenar uma área plana, sem declividades, por uma tubulação de 1,00m de
diâmetro, enterrada cerca de 80% do seu diâmetro e desaguar em outra tubulação
também de diâmetro 1,00m e também enterrada cerca de 80% de seu diâmetro,
abaixo do nível do lençol freático. E para finalizar, cerca de 80% de seu
diâmetro se situa abaixo do nível da Lagoa do Braço Morto, Isto não é
drenagem, são vasos comunicantes!
·
O presidente da ACIBM – Associação Comunitária
de Imbé Braço Morto, em contato com os engenheiros da prefeitura de Imbé, para
conhecer os elementos técnicos que motivaram esta colocação de tubos de 1,00m
colocados cerca de 80% abaixo do nível do lençol freático, nesta quinta-feira,
16/05/2024, não obteve absolutamente nenhum esclarecimento técnico sobre o
projeto de drenagem da substituição da vala de drenagem por uma tubulação de
1,00m.
Até
agora é um mistério!
·
A
água parada dentro do tubo será o local de reprodução para mosquitos, como o
aedes aegypti, que é o vetor de doenças como a dengue e o risco à saúde pública.
A
PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR:
POR
QUE NÃO ADOTARAM VALAS VERDES?
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