A AMEAÇA QUE VEM DO MAR
ATHOS STERN
Engenheiro, ex-presidente da ACI-BM
As prefeituras do Litoral Norte não estão se dando conta de que a elevação do nível
do mar, que ocorre em todo mundo, é um problema a ser encarado também aqui,
antes que seja tarde demais. Para exemplificar: as prefeituras municipais de Imbé e
Tramandaí desejam construir duas pontes na foz do rio Tramandaí. Além de não
ser o local adequado, o trânsito de acesso a elas seria por ruas de pequena largura
em uma zona residencial, em desacordo com um Estudo de Mobilidade Urbana.
Acresce o fato de agredir o meio ambiente e pôr fim à Pesca Colaborativa entre
Botos e humanos, que ocorre neste local e que está sendo objeto de exame pelo
IPHAN como bem cultural de natureza imaterial.
Outro aspecto não levado em consideração é que com o aumento do nível do mar,
o acesso a essas pontes será impraticável. O nível global do mar aumentou
aproximadamente 25 cm desde 1880. Além disso, a elevação global do nível do
mar está se acelerando, atingindo uma taxa de mais de 3 cm por década nas
últimas décadas. Essa tendência é preocupante e tem implicações significativas
para as regiões costeiras, incluindo a Flórida, que enfrenta desafios crescentes de
inundações e perda de patrimônio devido a esse fenômeno, segundo a National
Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). Esse fenômeno é uma
consequência das alterações climáticas e do aquecimento global.
O nível do mar na região costeira em torno de Ocean Isle Beach, Carolina do Norte,
aumentou aproximadamente 7,6 centímetros (3 polegadas) desde o início dos anos
80. Esse aumento gradual do nível do mar tem erosionado as costas, tornando-as
mais vulneráveis às inundações. As casas no extremo leste de Ocean Isle Beach
foram vítimas dessa erosão costeira, um fenômeno comum em muitas praias na
Carolina do Norte e em todo o mundo.
Mas o fato inexorável é que não há dinheiro suficiente para conter o avanço do mar
e o prejuízo será socializado. Em julho de 2016, a estação meteorológica de
Mitribah, no Kuwait, registrou uma temperatura impressionante de 54°C (129°F),
tornando-se a terceira temperatura mais alta já registrada de forma confiável na
Terra. O calor extremo no Kuwait é um exemplo alarmante dos efeitos do
aquecimento global.
Quanto ao oceano Ártico, as evidências indicam que ele está aquecendo
rapidamente. Aqui estão alguns pontos importantes:
1. Degelo do Ártico: O degelo do gelo marinho no Ártico está ocorrendo a uma taxa
preocupante. A extensão mínima do gelo marinho no Ártico está diminuindo em
cerca de 13,1% por década, com base na média de 1981 a 2010. Isso tem
implicações significativas para o clima global.
2. Efeito Albedo: O gelo marinho no Ártico desempenha um papel crucial no
controle da temperatura do planeta. Ele reflete cerca de 80% da luz solar de volta
ao espaço, impedindo que aqueça a superfície. No entanto, quando o gelo derrete,
a superfície mais escura do oceano absorve cerca de 90% da luz solar, resultando
em aquecimento adicional da região. Esse fenômeno é conhecido como efeito
albedo.
3. Aquecimento Acelerado: O Ártico está aquecendo quase quatro vezes mais
rápido do que o restante do mundo nas últimas décadas. Em média, a região está
cerca de 3°C mais quente do que em 1980. Esse aquecimento tem consequências
graves, incluindo o derretimento das calotas de gelo.
4. Calota de Gelo do Ártico: A calota de gelo do Ártico está ameaçada. O
derretimento pode ocorrer mais cedo do que se previa anteriormente,
possivelmente em algum dos próximos anos, em vez de no final deste século. Isso
tem implicações para o nível do mar e os ecossistemas árticos.
Em resumo, tanto o calor extremo no Kuwait quanto o aquecimento do oceano
Ártico são sinais alarmantes das mudanças climáticas e exigem ação global para
mitigar seus impactos.
Estudos anteriores sugerem que a Groenlândia perdeu ao menos 9 trilhões de
toneladas de gelo no século passado, mas a velocidade do degelo vem
aumentando nos últimos anos. A região é considerada chave para os
pesquisadores climáticos por causa do seu potencial de contribuição para a
elevação dos níveis do mar, calculado em aproximadamente 6 metros, caso todo o
gelo derreta. Desde 1990, a ilha contribuiu com 10% de todo o aumento dos níveis
do mar.
Os pesquisadores identificaram uma preocupação significativa relacionada à
camada de gelo da Groenlândia. Entre janeiro de 2011 e dezembro de 2014, a
camada de gelo perdeu massa a uma taxa média de 269 bilhões de toneladas. Isso
resultou em uma perda total de aproximadamente 1 trilhão de toneladas de gelo
durante esse período de quatro anos.
A situação é ainda mais alarmante. Partes do manto de gelo da Groenlândia estão
à beira de um ponto crítico, a partir do qual será praticamente impossível deter o
derretimento. Devido ao aquecimento global, áreas no centro-oeste da ilha já
começaram a desestabilizar. Essa desestabilização é resultado de efeitos de
retroalimentação, nos quais o aquecimento acelera à medida que a altura do manto
glacial diminui. Infelizmente, mesmo se conseguirmos conter o aquecimento global,
a perda de massa de gelo atual e a esperada no futuro próximo serão basicamente
irreversíveis. Para que a camada de gelo retorne à altura de séculos passados, as
temperaturas teriam que baixar até níveis muito inferiores ao pré-industrial.
As consequências globais são preocupantes. Se a temperatura média global
exceder entre 0,8°C e 3,2°C em relação ao nível pré-industrial, a fusão do manto
glacial groenlandês se tornará incontornável. Isso resultaria em uma elevação de
mais de 7 metros do nível do mar global e também afetaria a circulação meridional
de capotamento do Atlântico (AMOC), responsável pelo calor relativo na Europa e
na América do Norte.
Em resumo, é crucial reduzir rapidamente as emissões de gases do efeito estufa
provenientes da queima de combustíveis fósseis para estabilizar o manto glacial e
nosso clima. O impacto do derretimento da camada de gelo da Groenlândia é uma
questão urgente que afeta todo o planeta e suas comunidades costeiras.
O que ocorre no Brasil?
Sete cidades brasileiras estão tomando medidas para enfrentar o aumento do nível
do mar e os desafios relacionados às mudanças climáticas. Essas cidades estão
cientes dos riscos e estão implementando estratégias para proteger suas
populações e infraestruturas:
1. Rio de Janeiro (RJ): A cidade está adotando medidas para proteger suas áreas
costeiras e mitigar os impactos do aumento do nível do mar.
2. Recife (PE): Recife está investindo em projetos de proteção costeira, como
construção de diques e quebra-mares.
3. Fortaleza (CE): Fortaleza também está focada em estratégias de adaptação,
incluindo o planejamento urbano sustentável.
4. Porto Alegre (RS): Embora não esteja diretamente no litoral, Porto Alegre está
atenta aos desafios climáticos e aprimorando seu sistema de drenagem.
5. Salvador (BA): Salvador está considerando a elevação do nível do mar em seu
planejamento urbano e buscando soluções resilientes.
6. Santos (SP): Santos está trabalhando na proteção de suas áreas costeiras e na
conscientização sobre os riscos.
7. São Luís (MA): A capital do Maranhão também está adotando medidas para
enfrentar os impactos do aumento do nível do mar.
Essas cidades estão se esforçando para garantir um futuro mais seguro e
sustentável diante das mudanças climáticas e do avanço do mar.
Enquanto isso, os administradores das cidades do Litoral continuam fazendo de
conta que nada disso vai ocorrer por aqui. Até quando?
A beira do mar em Imbé tomada de areia depois de uma ressaca
Foto de Clovis Heberle
Muito boa matéria.
ResponderExcluirEste é o mundo que vamos deixar! Que cada um tente fazer a sua parte!
ResponderExcluirEstão com vergonha?
ResponderExcluirGratidão por essas três reportagens, pesquisa, fotos que dizem e contemplam nossas realidades , no limite da solução em tempo hábil
ResponderExcluir