TRAGÉDIAS PREVISÍVEIS

 



Chuvas muito fortes são normais na serra onde se localiza a cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro. O que não é normal, nem aceitável, é que praticamente nada é feito para que, de tempos em tempos, ocorram deslisamentos de terra e desabamentos de prédios, com destruição e número de vítimas cada vez maiores. 

De quem é a culpa?  É claro que ninguém deveria construir em encostas sujeitas a estes desastres. Mas caberia, em primeiro lugar, à prefeitura proibir construções em áreas de risco, e realizar obras de prevenção. Há inúmeros outros exemplos no país, mostrados nas tevês e nas redes sociais depois que as tragédias ocorrem. Deveriam servir de alerta e mudança de mentalidade dos prefeitos e vereadores, mas infelizmente isto quase nunca acontece. 

No litoral brasileiro, de norte a sul, quem dá as tintas são as construtoras, sempre de olho em boas oportunidades de negócios. Na esteira vêm as imobiliárias. Os planos diretores são feitos e depois modificados de acordo com seus interesses, sem levar em conta as consequências ambientais e a qualidade de vida dos cidadãos. Em Balneário Camboriú os edifícios formaram uma barreira junto à praia, que ficou na sombra. Milhões foram gastos com um aterro para alargá-la. Capão da Canoa virou uma floresta de concreto.  

 Imbé tem sido vítima desta falta de visão de futuro, como atesta a construção de um edifício de 15 andares  em área de preservação, junto ao rio Tramandaí. O novo Plano Diretor proposto pela prefeitura - barrado pela Justiça Federal - permitiria a construção de edifícios ao longo da margem do rio, assim como nas principais avenidas. A cidade corre o risco de perder a sua característica mais marcante, com danos ambientais irreversíveis. 

Neste verão o governo estadual liberou uma verba de R$ 40 milhões para a construção de uma nova ponte para substituir a atual, numa bem sucedida articulação dos políticos da região. Mas o projeto da obra não  foi discutido com as comunidades de Imbé e Tramandaí.  Estudos como o de impacto ambiental foram dispensados . As opiniões daqueles que contestam o absurdo de construir as pontes   junto à foz do rio, apontando os danos à pesca colaborativa e a possível fuga dos botos, não tem sido levadas em conta, apesar de serem de professores e pesquisadores do Ceclimar da Ufrgs.  Moradores que se sentem justamente prejudicados, pois têm suas casas na rota de acesso dos dois lados da ponte, em Imbé e em Tramandaí, são criticados por não aceitarem o "progresso".  A voz da razão não foi, até agora, ouvida. 

Enquanto isso, obras necessárias, como a prevenção de alagamentos e a solução do problema da poluição por esgotos cloacais, cujos efeitos são cada vez mais sentidos, são deixadas para um futuro remoto. 

A elevação da nível do mar e outros sinais alarmantes das mudanças climáticas também não parecem preocupar os gestores municipais. 

Enquanto em todo mundo surgem alternativas para evitar a impermeabilidade do solo e evitar alagamentos, em Imbé são cortadas as árvores das áreas públicas e na principal avenida o verde da vegetação é substituído pelo cimento para estacionamentos. 




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