O IMPACTO DO CRESCIMENTO POPULACIONAL NO LITORAL NORTE

Athos Stern

Engenheiro, professor aposentado da Ufrgs

Ex-Presidente e consultor da Associação Comunitária de Imbé - Braço Morto 


A construção de casas pelos veranistas no litoral norte do Rio Grande do Sul tem uma história rica e fascinante. Durante o século XX, especialmente entre as décadas de 1930 e 1950, muitos veranistas começaram a construir suas casas de férias ao longo da costa, buscando um refúgio próximo ao mar. Essas construções eram geralmente simples e práticas, muitas vezes feitas de materiais locais como madeira e telhas.

A região passou por várias fases de ocupação e desenvolvimento. Inicialmente, a área era ocupada por estâncias e fazendas. Mais tarde, com o crescimento do turismo de saúde entre 1888 e 1940, começaram a surgir loteamentos balneários, onde famílias construíam suas casas de veraneio. Essas casas eram espaços temporários de lazer e convivência familiar, muitas vezes compartilhando histórias e experiências entre os veranistas.

Com o tempo, a falta de normas jurídicas para proteger e orientar a urbanização do litoral levou a transformações profundas na paisagem marítima. No entanto, muitas dessas casas de veraneio continuaram a ser preservadas, mantendo o estilo e a tradição dos verões passados.

Durante o período de turismo de saúde, surgiram loteamentos balneários onde famílias construíam suas casas de veraneio. Com o tempo, essas áreas foram se urbanizando e se transformando em centros turísticos mais desenvolvidos. Nos últimos anos, a região tem se destacado como um polo de sustentabilidade ambiental, buscando equilibrar o desenvolvimento urbano com a preservação dos espaços naturais e culturais.

Hoje, o litoral norte é conhecido por suas praias belíssimas e infraestrutura voltada para o turismo, incluindo hotéis, restaurantes e diversas atividades de lazer. A região continua a atrair turistas de todo o Brasil e do exterior, mantendo sua tradição de ser um destino de veraneio popular.

A região foi inicialmente habitada por indígenas, que foram os primeiros moradores da área. Mais tarde, com a chegada dos colonizadores portugueses no século XVIII, a presença de escravos africanos também se tornou significativa.

Durante o período colonial, a região foi marcada pela presença de quilombos, comunidades de escravos fugitivos que se estabeleceram em áreas remotas. Esses quilombos desempenharam um papel importante na formação da população local.

Com o tempo, a região passou por diversas fases de ocupação e desenvolvimento, incluindo a chegada de imigrantes europeus, principalmente alemães e italianos, que contribuíram para a diversidade cultural da área.

A região tem experimentado um crescimento populacional significativo nos últimos anos, com um aumento de 32% em 12 anos, passando de 200,5 mil habitantes em 2010 para 265,5 mil habitantes em 2022.

Capão da Canoa é a cidade mais populosa da região, com cerca de 62 mil habitantes, enquanto Imbé apresentou o maior crescimento percentual, passando de 17 mil para 27 mil habitantes desde sua emancipação em 1988. Muitos novos moradores se mudaram para a região em busca de uma qualidade de vida melhor e mais tranquilidade em comparação com áreas urbanas maiores, como Porto Alegre.

A pandemia também desempenhou um papel importante nesse crescimento, pois muitas pessoas adotaram o trabalho remoto e decidiram se mudar permanentemente para a praia. Isso resultou em um aumento na demanda por serviços e infraestrutura, incluindo saúde, educação e turismo.

Uma mudança significativa na dinâmica econômica e social do litoral norte do Rio Grande do Sul. Tradicionalmente, os veranistas desempenhavam um papel fundamental na economia local, contribuindo para o sustento de muitos moradores que dependiam do turismo de verão para obter renda. Com o passar do tempo, vários fatores contribuíram para essa transformação:

  1. Crescimento da População Permanente: O aumento da população residente ao longo do litoral, especialmente com o fenômeno do trabalho remoto durante a pandemia, trouxe novos moradores que se estabeleceram permanentemente na região. Isso resultou em um aumento da demanda por serviços e infraestrutura, gerando empregos e fontes de renda contínuas.
  2. Diversificação Econômica: Com o desenvolvimento urbano e a maior estabilidade econômica, a dependência exclusiva do turismo de verão diminuiu. A oferta de serviços e comércios locais cresceu, permitindo que os moradores tivessem outras opções de trabalho e renda além do turismo sazonal.
  3. Desenvolvimento de Infraestrutura e Serviços: A melhoria na infraestrutura, como estradas, escolas, hospitais e comércio, ajudou a criar um ambiente mais autossuficiente. Isso fez com que os moradores não precisassem mais depender exclusivamente do fluxo de turistas para suprir suas necessidades básicas e obter renda.
  4. Turismo O Ano Todo: A promoção do turismo ao longo do ano, com atividades e atrações que vão além da temporada de verão, contribuiu para um fluxo contínuo de visitantes. No entanto, os setores de hotéis e restaurantes continuam a acolher bem os veranistas, pois ainda são importantes para a economia local, especialmente durante a alta temporada.

Essa evolução reflete uma adaptação da comunidade local às mudanças econômicas e sociais, permitindo que os moradores do litoral norte do Rio Grande do Sul tenham uma qualidade de vida melhor e maior independência financeira.

Muitos moradores locais expressam uma certa satisfação e alívio ao final da temporada de verão, quando a grande quantidade de turistas diminui. Durante a alta temporada, a presença massiva de visitantes pode trazer alguns desafios, como aumento no tráfego, filas nos estabelecimentos comerciais, sobrecarga dos serviços públicos e, às vezes, barulho e falta de privacidade.

Quando a temporada de verão termina e o fluxo de turistas diminui, os moradores podem desfrutar de um ambiente mais tranquilo e organizado. As praias e espaços públicos retornam a um estado mais calmo, permitindo uma convivência mais agradável e menos tumultuada. Além disso, a redução no número de pessoas facilita o acesso a serviços e infraestruturas locais, melhorando a qualidade de vida dos residentes.

Essa dinâmica de “alta temporada” e “baixa temporada” é comum em muitas regiões turísticas, e os moradores acabam se adaptando ao ritmo anual, aproveitando os benefícios e lidando com os desafios de cada período.

Os veranistas, ao possuírem um grande número de propriedades no litoral norte do Rio Grande do Sul, contribuem significativamente para a arrecadação dos municípios, especialmente através do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e outras taxas relacionadas a serviços e infraestrutura. Essa arrecadação é essencial para o desenvolvimento e manutenção da região.

Durante a alta temporada, o aumento do consumo e da atividade econômica gerado pelos veranistas também contribui para as receitas locais, por meio de impostos sobre vendas, serviços turísticos, hospedagem e alimentação. Esse fluxo de recursos permite que os municípios invistam em melhorias na infraestrutura, como pavimentação de ruas, construção e manutenção de escolas e hospitais, além de projetos de saneamento básico e preservação ambiental, que normalmente não são realizados e especialmente a preservação ambiental que é agredida.

Assim, embora os moradores permanentes se beneficiem de uma qualidade de vida melhor fora da temporada, o papel dos veranistas continua sendo crucial para o desenvolvimento econômico e social do litoral norte. A combinação de uma população residente crescente e um fluxo constante de veranistas proporciona um equilíbrio que possibilita o crescimento sustentável da região.

Comentários

  1. Ok. ESTE é o novo tempo ďe cooperação que estamos vivendo . Assim é o progresso !!

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