VÍTIMAS DE UMA ILHA DE CALOR

 

A Dra. Maria Luiza Porto, professora aposentada do Departamento de Ecologia da UFRGS, viveu um caso significativo em Capão da Canoa, uma cidade símbolo da ocupação desordenada do espaço urbano que tem resultado em ilhas de calor. Ela mora em um bairro com construções modernas, predominantemente compostas por edifícios que ultrapassam doze andares e estão densamente concentrados. A situação não só tornou o calor insuportável, mas também trouxe elementos tóxicos devido à prática de impermeabilização das garagens, adotada pelos prédios da vizinhança. Essa prática aumenta os efeitos térmicos e tóxicos no entorno, resultando na liberação de poeira e gases, e no surgimento de doenças perigosas do aparelho respiratório, rins, pele e sistema neurológico.

É um relato de uma especialista sobre as consequências do adensamento em Capão da Canoa, com a formação de uma ilha de calor bem como a poluição que contribui para o aparecimento de diferentes doenças.

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ILHAS DE CALOR E CONSTRUÇÃO CIVIL- UM CASO VIVENCIADO EM CAPÃO DA CANOA

 Professora doutora Maria Luiza Porto

 Sou veranista e proprietária de um apartamento em Capão da Canoa situado em um bairro com construções civis modernas e recentes. A maioria delas são edificações que ultrapassam doze andares, os quais estão acentuadamente adensadas. Muitas delas, como o prédio onde moro, são construídas com três pavimentos de garagem, que ocupam o total do terreno. Do quarto pavimento em diante estão apartamentos centralizados nesta área, em mais de doze pavimentos, formando uma torre. As janelas do quarto pavimento, onde se situa meu apartamento, ficam diretamente em contato com a laje teto da garagem de três pavimentos, considerável espaço que ocupa o total do terreno. 

Segundo informação da síndica, em torno de quatro anos atrás iniciaram infiltrações de água da chuva nas referidas garagens. Por este motivo, a solução dada foi colocar como isolante na laje destas, uma manta térmica usada para forros composta de alcatrão asfáltico revestida por uma superfície de alumínio, que fica exposta diretamente aos raios solares, provocando altas temperaturas e enorme reflexão solar. Assim esta manta térmica não absorve o calor e sim reflete concentrando este calor, formando, assim, uma ilha de calor insuportável. Por outro lado, pelo fenômeno de albedo (reflexos mais junto a superfície, aquecendo mais esta), torna o ambiente intolerável e perigoso a vida dos organismos, especialmente, para os moradores do quarto piso. Não somente insuportável pelo calor como trazendo elementos tóxicos através da liberação, sob forma de poeira e gases, o surgimento de perigosas doenças do aparelho respiratório , rins, pele e do sistema neurológico. 

Além disso, esta ilha de calor e o efeito albedo, nesta específica situação, corroem os motores dos aparelhos de ar condicionado, que somado a maresia reduz sua vida útil, especialmente para os aparelhos dos apartamentos do quarto piso. No meu caso perdi dois aparelhos de ar condicionado em quatro anos. O pior de tudo é que este bizarro e perigoso modelo de evitar infiltrações nas garagens está sendo seguido por prédios da vizinhança, feitos por outras construtoras, aumentando assim os efeitos térmicos e tóxicos para o entorno. Estas questões foram mais acentuadas no mês de janeiro de 2025, devido ao aumento notório das temperaturas globais e local, provocando em mim, neste período, uma tosse seca acentuada e irritação nos olhos.

 O local, em questão, costumava ser visitado por pequenas aves, as quais, nestes períodos críticos, desapareceram e além disso meu Pet perdeu muito pelo e vomitava em uma frequência anormal. A seguir esclareço alguns pontos que elucidam o perigo do uso inadequado destes tipos de revestimento, enfatizando coberturas verdes, para uma melhor qualidade de vida e saúde aos moradores e veranistas em nosso litoral. 

 Esclarecimentos: 

1- A manta térmica utilizada é formada de componentes químicos orgânicos e metais, considerados tóxicos aos organismos (humanos, plantas e animais), que pelos processos de intemperismos e chuvas ácidas se tornam disponíveis e poluem através do ar (poeiras ou gases) ou da agua, atingindo assim as comunidades humanas, animais e vegetais. Os efeitos à saúde podem se manifestar por irritações de pele e olhos, problemas respiratórios, pulmonares e renais. Podendo, pela acumulação dos poluentes no organismo, chegarem a doenças mais graves como o câncer e doença de Alzheimer. 

2- Outra questão envolve aspectos de fenômenos físicos ambientais ,que se referem a alta reflexão de raios solares provocados pelo revestimento desta manta por alumínio. Esta questão, gera um retorno dos raios ao ambiente, pois não absorve, pelo contrário reflete e consequentemente aumentando seu calor, ainda mais próximo da , este gerado pelo efeito albedo, o que denominamos em climatologia urbana ilhas de calor. Neste caso especifico ainda ampliada. 

3- As ilhas de calor se formam próximas a superfície e junto as Janelas , onde estão fixados os aparelhos de ar condicionado dos apartamentos do quarto piso. Estas ilhas de calor somadas ao intemperismo e maresia diminuem a vida útil dos aparelhos de ar, causando diminuição de sua vida útil e consumo de energia elevado. O que acarreta em elevados custos para os condôminos do quarto piso.

 4- A triste escolha das mantas de isolamento térmico com alumínio, para sanar problemas de infiltrações nas garagens, em uma situação de contato direto com as janelas dos moradores , causou um problema maior, que pode entrar em uma esfera jurídica, mais severa e onerosa. A situação do quarto piso do condomínio deveria ter sido tratada no sentido de absorver calor e não refletir, usando revestimentos , que absorvem e refletem o calor provenientes da radiação como as plantas verdes ou gramas artificiais , que são materiais inertes. No original, talvez pudesse ter sido utilizado procedimentos de tetos verdes ou telhas verdes, assim como jardins suspensos. Estas soluções evitariam as reflexões, tornando-se estes locais em ilhas de frescor no ambiente urbanizado, assim a saúde mental e física dos moradores e veranistas de nosso litoral e cumprindo, em uma escala menor, a função de praças e jardins no ambiente urbano.



Comentários

  1. Em resumo, a qualidade ambiental em Capão da Canoa está igual ou pior do que a de Porto Alegre!

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